Na quadra da Escola
Municipal João Pereira Vasconcelos, na Praia do Forte, cerca de 30 adolescentes
do Instituto Fazer Acontecer brincavam de futebol, vôlei e basquete. Todos
aguardavam a presença da medalhista olímpica Maurren Maggi, ouro em Pequim-2008
no salto em distância, que contaria um pouco do espírito olímpico para a
garotada da ONG, que atende mais de 100 crianças através do esporte.
No meio
da turma, uma em especial aguardava ansiosamente a atleta aposentada. Com 15
anos, Valentina era a única que já havia praticado a modalidade de Maurren.
Para ela, seria o dia do encontro com sua maior incentivadora.
Valentina
também tem sua medalha. Ganhou este ano o ouro no salto em distância no
intercolegial de Mata de São João. Saltou 3,4 m. “Não quero perguntar para ela
como é a sensação de ganhar uma medalha de ouro, pois eu já ganhei uma. Quero
saber como eu faço para saltar tão longe como ela”, disse Valentina, aguardando
o momento de encarar Maurren, que foi ouro após saltar 7,04 m em 2008.
“Se
treinar muito, tiver muita dedicação, vai longe”, disse Maurren para a tiete.
Convidada de um patrocinador dos Jogos, a única mulher medalhista de ouro do
atletismo brasileiro não só realizou o sonho de uma futura atleta, como ganhou
novos adeptos. As bolas foram abandonadas pelos adolescentes, que fizeram fila
para saltar nos colchões montados na quadra. “Creio ter plantado uma sementinha
do atletismo nesta garotada”, acredita Maurren.
Você
foi porta-bandeira do Brasil em Pequim. Na sua opinião, quem deveria levar a
bandeira brasileira nos Jogos do Rio: o velejador Robert Scheidt, a pentatleta
Yane Marques ou o líbero da seleção de vôlei Serginho?
Sou
muito amiga de todos eles. Porém, pela história, pelas medalhas que ele tem,
acho que Scheidt é o mais merecido para carregar nossa bandeira. Ele já tem o
meu voto.
Restando
poucos dias para a Olimpíada do Rio, vemos as delegações chegarem e reclamarem
muito da estrutura, principalmente da Vila dos Atletas. Isto acontece em todas
as sedes ou no Brasil os problemas estão mais acentuados que o normal?
Isto
acontece em todas as Olimpíadas. Nenhuma Olimpíada é perfeita. Nós, atletas,
que fazemos com que fique perfeito, pois sempre queremos o melhor para a gente.
Os atletas estão no direito deles de reclamar, mas não é algo inédito. Em
Londres, as camas eram pequenas e eu não dormia direito. Nada é perfeito. Como
o foco agora é o Brasil, então é natural que repercuta tanto assim.
Você
sai do status de atleta para comentarista do atletismo nas transmissões da TV
Globo. Preferia competir?
É
triste de um lado, pois não estou competindo, mas feliz, pois continuo ao lado
dos atletas. Como comentarista, falarei de pessoas que convivo, que sei quem
são. Continuo fazendo parte do meio.
Quais
as principais feras do atletismo para ficar de olho?
Bolt
sempre será uma atração a ser observada. Ele, apesar da recente contusão, está
muito focado. Olimpíada não é fácil para ninguém, incluindo as feras. Vai ser
uma Olimpíada com muitas surpresas.
Se
tivesse que apostar sua medalha de ouro em algum(a) brasileiro(a) do atletismo,
em quem você apostaria?
Sem
dúvida na Fabiana Murer, do salto com vara. Ela está muito focada, sabe muito
bem onde tem que saltar. Tudo que ela errou foi corrigido e ela só pensa nesta
Olimpíada, deixou isto bem claro. Ela tem uma história muito triste de
Olimpíada e acho que chegou a vez dela no ouro.
E
uma surpresa?
Não
digo surpresa, mas nossas saltadoras Keila (Costa) e Lia (Eliane Martins) podem
surpreender.
Seu
esporte é pouco difundido no Brasil. Como foi se tornar vencedora nesta
modalidade pouco conhecida dos jovens?
Comecei
a carreira cedo, com uns 6 anos. Fazia ginástica olímpica, vôlei, natação, até
xadrez. Meu esporte favorito era ginástica olímpica. Porém, cresci um pouco
demais e todos sabem que atleta de ginástica tem que ser bem pequenininha
(risos). Depois de um convite para morar em São Paulo e fazer parte de um reduto
de atletas, eu me descobri no salto. Então, às vezes, o esporte pode encontrar
você.
Informações Correio