Aos 48 anos de idade, Paulo Sergio Ferreira dos Santos tem um sonho:
fazer faculdade de Direito. Mas, enquanto a oportunidade não aparece, o baiano
que mora no Rio de Janeiro há 26 anos trabalha vendendo churrasquinho no bairro
Olaria, na zona norte da cidade. E desperdício não é uma palavra que faça parte
de seu vocabulário. Ele doa o excedente das carnes para famílias carentes da
Penha e do Complexo do Alemão.
Todos os dias Santos
faz um post no Facebook procurando por pessoas que estejam passando por
dificuldades para que possa ajudá-las, além de mobilizar outras a fazerem o
mesmo. "Eu adoro o que faço. Quando vou alimentar alguém, estou me
alimentando. Satisfaz o meu ego", afirma.
Santos ganhou as
redes sociais com suas postagens. Há um ano, ele contou a história de um
gerente de restaurante que, sem cobrar nada, serviu um senhor que estava
passando fome. A publicação alcançou 348 mil curtidas e teve mais de 127 mil
compartilhamentos. A partir daí, Paulinho Baiano, como é conhecido,
decidiu que, "mesmo nos momentos tristes", iria continuar ajudando as
pessoas.
Segundo o vendedor,
ele doa em média 12 quilos de carne e frango por mês, normalmente acompanhados
por arroz, feijão e tempero. Santos ainda guarda latinhas de cerveja e
refrigerantes para doar. A entrega é feita nos dias de Natal para que os
beneficiados possam vendê-las para fazer uma ceia.
Para evitar
desperdício
Uma das pessoas
ajudadas por Santos foi a coladeira de bolsas Carine de Oliveira Brandão, de 38
anos. Debilitada por conta de uma síndrome respiratória e sem condições de
trabalhar, a moradora do Complexo do Alemão viu a publicação do Paulinho Baiano
no Facebook e, após ter uma dúvida inicial, acabou entrando em contato com o
churrasqueiro.
"Achei muito
bacana. Depois que entrei em contato com ele, marcamos e em um domingo ele
apareceu lá na minha casa", diz Carine, que faz malabarismo para criar as
duas netas com o que recebe do programa federal Bolsa Família. "O Paulinho
levou carne, arroz, feijão e até uns brinquedos."
Antes de começar a
vender churrasco, Santos trabalhou como faxineiro, lavador de vidros de carro,
motorista, cobrador de ônibus e vendedor de balas. Montou sua barraca para
vender churrasquinho graças a um empréstimo feito por cinco amigos. Em suas
postagens, ele explica que as doações são uma forma de retribuir a ajuda que já
recebeu.
"Não gosto de
ver as pessoas sofrendo. Não quero que ninguém passe pelo que passei",
afirma Santos. "Muitas famílias me procuram pelo WhatsApp, mas,
infelizmente, é impossível ajudar todo mundo. Por isso incentivo outras pessoas
a também fazerem as doações."