terça-feira, 15 de outubro de 2013

'Aniversário se faz em casa, não no cemitério', desabafa pai de jovem que faria 22 anos hoje

Foto: Reprodução
Hoje, Emanuel Gomes completaria 22 anos. Mas a família não consegue nem pensar nos planos que o filho mais novo dos dois irmãos tinha para comemorar a data. “Ninguém vai para lugar nenhum, né? Aniversário se faz em casa, não no cemitério”, desabafou o pai dos jovens, o projetista Waldemir Dias, 55. Ele, que mora em Madre de Deus, diz que sente falta de escutar a voz dos filhos.

Apesar da distância, Waldemir diz que conversava com os filhos diariamente. “A gente se falava todo dia, toda hora. Agora, só se você me der o telefone de Deus, né?”, disse, abalado. “Éramos muito próximos. Emanuel aprendeu a mergulhar comigo e Emanuelle era minha ratinha porque nasceu pequenininha. Eu chamava ela de Julia Roberts, porque ela era tão linda quanto Julia”, lembrou. Waldemir veio para Salvador na quarta-feira, dois dias antes do acidente em que os dois filhos morreram.

Também foi nesse dia que se encontraram pela última vez. “Tenho imóveis no Barbalho e no Jardim de Alah. Tinha vindo aqui para tentar vender e dar o dinheiro para eles. Mas, daí, aconteceu essa tragédia. Devia ter levado a mim, não eles”. A mãe de Waldemir, a avó das crianças, ainda nem sabe do acidente. A família teme a reação dela, que tem 86 anos.

“Se minha mãe souber disso, ela morre na mesma hora. Não quero nem pensar. Ela vivia dizendo que eram os netos mais queridos e mais lindos dela”, afirmou. Inconformado com a perda dos filhos, o projetista diz que só quer justiça. “Quando ela (Kátia) acordar, só quero que pense no que fez. Não quero criar ira no coração, mas queria que ela sentisse a dor de perder um filho”, disse. 

Promotor pede avaliação de saúde de médica após acidente

“Ela passou por cima da lei”. Foi com essas palavras que o promotor Davi Gallo, da 5ª Promotoria do Júri, definiu a internação da médica Kátia Vargas Leal Pereira, 45, no Hospital Aliança. Ela segue hospitalizada na instituição  desde a última sexta-feira, quando se envolveu no acidente que matou os irmãos Emanuel, 21 anos, e Emanuelle Gomes, 23.

De acordo com o Ministério Público do Estado (MP-BA), a médica deveria ter sido encaminhada para uma instituição pública de saúde. “Não entendemos por que ela foi para o (Hospital) Aliança. No hospital público, ela teria todo o aparato de primeiros socorros. Além disso, ela está presa e deveria prestar declarações ao policial que estivesse no local, ao chegar. Num hospital público, ela também teria um lugar para ficar isolada”, explicou o promotor.

Foi por isso que o MP solicitou, ontem, ao Departamento de Polícia Técnica (DPT) que um perito do órgão faça uma avaliação do estado de saúde da médica. Isso porque, se ela estivesse em um hospital público, o exame já teria sido feito. Até hoje, ainda segundo Gallo, o órgão desconhece qual é o estado de saúde da médica.

“Está tudo errado. Ela está em um hospital particular, mas ninguém informou nada. Ninguém falou com ela, além do advogado. Dizem que ela está sedada, mas não temos certeza. Por isso, pedimos a um médico perito para avaliar e ver como ela realmente está. A avaliação que vale para nós é do laudo pericial fornecido pelo DPT”, afirmou.

A expectativa do promotor é que o resultado da avaliação médica saia até amanhã. Esse tipo de exame, de acordo com a assessoria de comunicação do DPT, é recorrente em casos em que o indivíduo não tem condições de sair do hospital e está previsto em lei.

A delegada Jussara Souza, titular da 7ª Delegacia (Rio Vermelho), admitiu que ainda restam dúvidas quanto às reais condições de saúde de Kátia. “Eu diria que, a princípio, o estado de saúde dela não denotava uma situação de maior gravidade, além do choque. Por isso, é importante que a gente se certifique”, disse. 

Ainda de acordo com a delegada, o hospital não tem a obrigação de informar o estado de saúde da paciente — a menos que exista uma ordem da Justiça.

Inquérito 

No fim de semana, o MP solicitou que a prisão em flagrante da médica fosse convertida em prisão preventiva. “Nós entendemos que a liberdade dela causa perigo à ordem pública. Todas as provas colhidas indicam a ação criminosa”, declarou o promotor Davi Gallo.

Segundo ele, o inquérito deve ser finalizado até o fim desta semana. Com a conclusão do inquérito, a médica deve ser denunciada pelo MP. “Já temos elementos para a denúncia, só estamos aguardando a delegada concluir a investigação. É homicídio triplamente qualificado, porque tivemos um motivo torpe, além da impossibilidade de defesa e de ter causado perigo comum”, afirmou Gallo.

No acidente, Emanuel e Emanuelle estavam a bordo de uma moto, que bateu em um poste, em frente ao Ondina Apart Hotel. Eles morreram na hora. De acordo com a polícia, testemunhas afirmam que Kátia dirigia em alta velocidade e discutiu com Emanuel. Depois, ela teria perseguido a moto, provocando um toque, que fez com que o jovem perdesse o controle da moto. 

Do bem

Kátia é médica oftalmologista e trabalha pelo menos em duas clínicas: na Ocular Clínica de Olhos, na Avenida Garibaldi, e também na Clínica Alclin, localizada no Itaigara. Ela é mãe de dois filhos adolescentes. No Facebook, amigos de Kátia defenderam a médica. “Quem conhece ela sabe que ela é do bem”, escreveu uma amiga. “Uma pessoa muito querida”, postou outra. O advogado da médica, Vivaldo Amaral, não foi localizado, ontem, pelo CORREIO.

Fonte: Correio.

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